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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

24
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Brexit/Braxit


Pedro Azevedo

"You like potato, I like potahto

you like tomato, I like tomahto

potato, potahto, tomato, tomahto.

Let`s call the whole thing off" - Louis Armstrong

 

A decisão foi adiada o mais possível, mas finalmente terminou o impasse: Brexit ou Braxit, o Braga está fora da Taça da Liga. Aos bracarenses de nada lhes valeu um bíblico Abel, ou mesmo um Salvador, pois na hora da verdade quem passou à história foi Renan (um herói). 

 

Tive sentimentos mistos ao ler a constituição de equipa do Sporting. Por um lado, fiquei contente por ver que tínhamos reforçado o nosso PH (Raphinha e Luíz Phellype), por outro triste pelas ausências de Geraldes (banco) e de Jovane (bancada). Quem estudou química sabe que um maior PH aumenta a basicidade, de alguma forma aquilo que nos atraiu no jogo posicional ("keep it simple") de Keizer. Por relação simétrica, também diminui a acidez (nossa), mas não impede a de quem connosco interage, podendo até dar azia, algo que foi particularmente visível na "flash-interview" de Abel Ferreira, sempre useiro e vezeiro (e agora, não Peseiro) a destilar a sua bilis quando defronta o Sporting. É que por muito que se peça lucidez, no laboratório do futebol português nada se passa a temperatura e pressão constantes e, como veem, está tudo ligado...

 

Não desprezando que jogava em sua casa, na Pedreira - no final, o Abel e o Salvador fartaram-se de "partir pedra" -, a verdade é que durante os 90 minutos o Braga foi mais equipa. Logo a abrir, demasiado espaço entre as linhas defensiva e média leoninas permitiu à equipa liderada por Abel encontrar um homem solto de marcação (João Novais) à entrada da área e com tempo para mostrar a sua qualidade de passe. Do cruzamento resultaria o golo de Dyego Sousa. Ainda mal refeitos, os leões estiveram quase a sofrer outro golo de seguida. Valeu a mancha de Renan perante Wilson Eduardo. O Braga era mais intenso e os seus jogadores chegavam naturalmente primeiro à bola. Quando isso não acontecia, Manuel de Oliveira marcava falta contra o Sporting, como numa entrada de Bruno Viana a fazer lembrar aquela música do Psycho Killer, dos Talking Heads. Passou mais de um quarto de hora até finalmente os comandados de Keizer levantaram a cabeça. O protagonista foi Raphinha. O brasileiro tomou-lhe o gosto e voltou a ter uma soberana oportunidade após soberba assistência de Nani, mas falhou o chapéu a Marafona. Adivinhava-se o golo do Sporting, mas antes ainda tivemos o primeiro momento de excesso de zelo do jogo, quando o árbitro deixou seguir isolado para a baliza um jogador bracarense que já se encontrava em Guimarães no momento em que lhe passaram a bola. Bem sei que as regras mandam prosseguir os lances até posterior visionamento do VAR, mas um pouco de bom senso não fica mal a ninguém. Finalmente, os leões lograram empatar a partida. E de bola parada, após excelente cabeceamento de Coates, que correspondeu a um canto muito bem marcado por Acuña. Logo de seguida, o argentino falhou o segundo, naquela que foi a melhor jogada colectiva do Sporting no jogo e que envolveu a participação anterior de Bruno Fernandes e Nani.   

 

O segundo tempo começou como o primeiro, com um golo do Braga. Não se compreende bem como é possível anular um golo destes, pois o toque de Dyego Sousa em Acuña pareceu um lance natural no futebol. A verdade é que conseguimos sair vivos e, posteriormente, poderíamos ter matado o jogo, mas aí o árbitro, após visionar as imagens, não conseguiu ver um "penalty" claro para todos (menos para o comentador da SportTV, que disse que " se fosse em Inglaterra...") cometido sobre Coates. Enfim, a fita do costume da arbitragem portuguesa e a certeza de que Manuel Oliveira não terá certamente a longevidade na carreira do seu homónimo realizador cinematográfico, embora se queira fazer parecer que a culpa de tudo é do VARíssimo. Só falta mesmo este meter uma licença por tempo indeterminado... Quanto ao "se fosse em inglaterra...", aguardo com ansiedade o comentário deste senhor a um dos próximos jogos da Premier League, nomeadamente quando um guarda-redes saltar com um avançado adversário e o árbitro nada sancionar...

Para não variar, o Sporting continuou a ser um motor a diesel que foi melhorando com o tempo. Durante bastante tempo voltámos a ser antecipados nas disputas de bola e faltou energia nos duelos individuais. Ainda assim, de realçar uma cavalgada impressionante, costa-a-costa, de Wendel. Mas o Braga poderia ter marcado quando Raul Silva acertou no travessão. De seguida, um momento polémico: Goiano (já tinha um amarelo) estorvou faltosamente Bas Dost quando este iniciava um contra-ataque. Novo amarelo (e concomitante expulsão) por mostrar? Até ao final do jogo conseguimos ficar ligeiramente por cima, embora não o suficiente para fazermos a diferença. 

 

E lá fomos para penáltis. Já sabíamos que Marafona era um especialista e conseguiu defender as penalidades apontadas por Dost (o que se passa?) e Nani (que nunca foi grande marcador). O que desconhecíamos era que Renan ainda era melhor. O brasileiro defendeu por três vezes, negando o golo a Ricardo Horta, Murilo e Ricardo Ryller. Pelo meio, Paulinho e Coates haviam atirado à trave e ao poste, respectivamente. (Ambos os guarda-redes pareciam os únicos elementos sóbrios numa despedida de solteiro que tinha descambado numa bravata de penáltis.) Após a derradeira parada de Renan, pensou-se que o jogo tinha terminado, mas afinal estava a começar: Abel e Salvador logo tomaram conta dos microfones, mostrando a habitual indignação de quando perdem contra o Sporting. Curiosamente, tal nunca ocorre quando o contendor é o nosso vizinho da Segunda Circular, e até andam há mais de 10 anos para lhes bater o pé... O "sindicalista" Abel foi o primeiro a falar, num longo discurso sobre a precariedade laboral dos treinadores e jogadores de futebol face ao seguro emprego dos homens do apito. Depois, falou Salvador, que viu penáltis quase minuto-a-minuto e terminou com uma expressão deliciosa para justificar com indignação a razão pela qual Gudelj deveria ter sido expulso: "1 mais 1 deu 1, e não 2...". Pois, Salvador, eu sei, é chato e, ao mesmo tempo, é a sensação que todos nós, sportinguistas, temos quando o Braga defronta o Benfica. É que, certamente, para muito pesar e infelicidade do Braga, a coisa acaba quase sempre num "E Pluribus Unum"...

 

Nota final: Afinal, o senhor do "em Inglaterra" é um oráculo. É que ele já estava a ver o Brexit (ou Braxit) a desenrolar-se à volta dele...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Renan Ribeiro

renanribeiro.jpg

abel e salvador.jpg

23
Jan19

Feira de São Mateus


Pedro Azevedo

Mateus (na sua origem, presente de Deus), além de ser um nome sagrado, é tão popular em Alvalade - inclusivé, nas suas variantes com "h", ou mesmo dois "t" e um "h" (finérrimo) - que, a fazer fé no Record, fomos à feira (Mercado de Inverno) e não resistimos a trazer mais um. Depois de Mathieu (Mateus, traduzido de francês para português), Matheus Pereira (cedido ao Nuremberga) e Mattheus Oliveira (emprestado ao Vitória de Guimarães), eis que chega Matheus Nunes, um médio brasileiro de 20 anos que vinha até aqui actuando no Estoril. Boa sorte!

matheus nunes.jpg

(Fonte de imagem: Record)

23
Jan19

Oportunidade aos mais jovens


Pedro Azevedo

Hoje, na Pedreira, gostaria que se testassem outras soluções. Por isso, recomendaria que jogassem de início os jovens Francisco Geraldes (ou Miguel Luís), Jovane Cabral e Raphinha (para além de Phellype e de Salin, este último face à rotatividade nas taças). A minha equipa seria: Salin; Ristovski, Coates, Mathieu e Acuña; Gudelj (Idrissa Doumbia, Petrovic), Bruno Fernandes e Xico Geraldes (Miguel Luís); Raphinha, Luíz Phellype e Jovane Cabral. Descansariam, tendo em conta futuras batalhas: Renan, Wendel (um jovem desgastado pelo excesso de jogos), Nani, Diaby e Bas Dost.

geraldes1.jpg

23
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Krasimir Balakov


Pedro Azevedo

"Búlgaro, mas não bulgar"*

 

"Ele rodopiava, ele saltava ao eixo entre oponentes que o apertavam, ele mantinha-se de pé, tal qual Maradona, mesmo quando carregado em falta. Ver Balakov jogar era como assistir a uma prova de 110 metros barreiras em que todos os obstáculos iam sendo fatalmente superados até à meta, o golo.

 

Assim foi certa tarde de sonho no Bonfim, quando sozinho destruiu o Vitória(?) - deixando atónita a multidão nas bancadas - pegando na bola com a sua abençoada canhota ainda no seu meio-campo (iludindo logo aí dois oponentes), resistindo posteriormente a carga dura, não cedendo miraculosamente à já antecipada queda, antes de preparar nova diabrura, com troca de pés driblando dois adversários em simultâneo(!), passando entre eles, para, de seguida, contornar o desamparado guardião da virtude vitoriana, encostando suavemente para golo com o pé direito. Um monumento! Uma bala humana com um destino certo, a baliza. Aliás, "Bala" ficaria para sempre o seu epíteto, nas "cov(as)" ficavam os que ousavam tentar contrariá-lo.

 

De vez em quando amuava e "desaparecia" do jogo, queria o contrato melhorado. Mas, regressava ao seu nível (e que nível, senhores!!). Por vezes, sebastianicamente, como naquela noite de nevoeiro feito de fumos de claques, quando disparou um míssil de pé direito(!) - sim, embora esquerdino de Ouro, não era manco do outro pé - apontado directamente ao aungulo superior esquerdo da baliza do benfiquista Silvino Louro. Bem, nesse dia, louros só para Balakov : "Que grande golo!", diria Sousa Cintra, em directo, ainda a procurar o seu lugar na Tribuna, aquando do golo madrugador que estreou uma nova forma de filmar os jogos de futebol em Portugal, com muitas câmaras e repetições de diversos ângulos, da SIC. Já para definir este búlgaro, só havia um ângulo, um encómio: genial."

*reacção de um portista ao ver Balakov jogar pela primeira vez...

balakov.png

22
Jan19

Abel adormecido (e a laranja mecânica)


Pedro Azevedo

E se, amanhã, Abel encontrar uma laranja no seu caminho, não resistir a tentar descascá-la e acabar adormecido pelo sumarento fluido venenoso preparado por Keizer? Sim, bem sei, a maçã...Bom, a maçã é uma estória para meninos, e Abel é tudo menos um menino (de coro). Pelo menos sempre que tem o Sporting pela frente, pois quando é o Benfica já não é bem assim, aparentemente, e até sorri e tudo. 

Para ganhar amanhã, o Sporting tem de ser uma laranja mecânica e, de forma a poder extrair todo o sumo possível, saber aproveitar as lições da mecânica de fluidos. A primeira coisa a fazer é jogar em campo pequeno (aproximar as linhas). A Teoria de Bernoulli aplicada a um jogo de futebol. Estreitando o campo, a pressão sobre a equipa do Braga será maior (aumenta o erro). Aplicada uma forte tensão nos bracarenses, a deformação do seu jogo ser-lhe-á proporcional (Teoria dos fluidos Newtonianos). Depois, será necessário aplicar velocidade. Como tal, proponho algumas alterações na equipa que vai a jogo, de forma a melhor acomodar a ideia inicial (ao mesmo tempo que pouparia alguns titulares para outras batalhas). Assim, para além da habitual substituição nas Taças, de Renan por Salin - o melhor jogo de pés do francês aumenta a velocidade de circulação de bola - daria uma oportunidade no sector recuado ao supersónico Lumor (importante para dobrar centrais posicionados perto da linha do meio-campo, deixando assim muito espaço nas costas). No meio campo, manteria Bruno Fernandes e Gudelj (não estando ainda em condições o Doumbia) e lançaria Francisco Geraldes como "10" (com Bruno de perfil por detrás), de forma a podermos ter dois "registas", dois lançadores de passes de ruptura para as alas e frente do ataque. Como "cereja no topo do bolo", revolucionaria a linha dianteira, fazendo entrar os velozes Jovane (esquerda) e Raphinha (direita), bem como o "Felipe das consoantes", o nosso recém-chegado ponta-de-lança Luíz Phellype. O que Vos parece?

abel.jpg

(Fonte Imagem: Rogério Ferreira/KAPTA+)

22
Jan19

Ala, que se faz tarde! (2)


Pedro Azevedo

Ontem, mostrei aqui uma comparação estatística relativa à eficácia ofensiva dos alas leoninos Nani, Diaby, Raphinha e Jovane. Mas, o futebol não é só feito de números. Pelo contrário, ele vive essencialmente de momentos, fragmentos, instantâneos que agitam corações e que, capturados, fazem a nossa memória guardá-los para sempre, produzindo-se assim o elo emocional que transforma o desporto-rei num fenómeno à escala planetária. Por isso, hoje, vou repetir a comparação anteriormente feita, só que, desta vez, baseando-me naquilo que os meus olhos viram até agora. 

Comecemos então: 

  • Nani - dos 4 alas, é o que tem melhor leitura dos vários momentos do jogo. Já não tem a velocidade que caracterizou a sua primeira passagem pelo clube - aspecto em que actualmente fica a perder para qualquer um dos seus concorrentes -, mas ainda consegue vencer sprints a jogadores como Corona, como se pôde verificar no último Clássico. É especialmente letal quando recebe a bola de frente para a baliza, podendo encontrar um apoio na zona frontal com quem iniciar uma tabelinha ou, simplesmente, aplicar o seu remate forte e colocado. Não tão forte quando recebe a bola posicionado paralelamente à linha de fundo, demora algum tempo a encontrar a solução adequada ao jogo interior, motivo que leva alguns adeptos a confundi-lo com recreio com a bola, acusando-o de excessiva temporização. Com a idade tem refinado a sua relação com o golo, aparecendo muitas vezes em zonas de finalização, inclusivé fazendo uso do seu bom jogo de cabeça (notável para um jogador relativamente baixo), aspecto onde vence declaradamente a concorrência. Com espaço é letal nas alas, destacando-se pela colocação e tensão dos seus cruzamentos. Mas a característica porventura mais importante para a equipa é a sua capacidade de sentir quando é necessário imprimir aceleração ou, pelo contrário, quando importa pôr gelo e acalmar o jogo, aspectos que tem vindo a refinar com a experiência. Numa fase difícil do clube aceitou regressar. É o nosso capitão e um dos líderes do balneário, e o seu ar desconsolado após o jogo em Tondela mostrou bem o seu grau de comprometimento com o clube. Para mim, é um dos indiscutíveis do plantel leonino;
  • Diaby - é um jogador que faz da velocidade a sua principal arma e que tem boa leitura de jogo interior. Infelizmente, a sua fraca qualidade técnica limita-o bastante, tanto na ligação do jogo por dentro (tabelinhas que não lhe saem por passe deficiente) como na procura da profundidade, onde a recepção de bola nem sempre é a melhor. Lançado em corrida, através de um passe rasteiro nas costas da defesa, é temível, podendo aí aplicar as suas melhores qualidades: velocidade e remate colocado de primeira. Mas se a bola vem por alto e é preciso orientar a recepção, então começam aí os seus problemas. Também não tem um bom jogo de cabeça, já tendo perdido golos "cantados" devido a essa insuficiência. No entanto, é um jogador talhado para o tipo de jogo que Keizer quer impôr no Sporting, pelos seus constantes movimentos de aproximação à bola e disponibilidade física nas movimentações constantes, que ajudam a baralhar as marcações contrárias. A maioria dos seus golos surge quando os jogos já estão resolvidos, aspecto que me leva a pensar que será uma solução a usar a partir do banco quando os jogos já estão partidos e o Sporting lidera confortavelmente;
  • Raphinha - tem uma boa relação com o golo, mas a lesão sofrida numa fase prematura da época limitou a sua progressão. Ainda não tirei totalmente a dúvida se Raphinha é um jogador de ataque continuado ou, essencialmente, de transição. A seu favor tem o facto de a maior parte das suas oportunidades surgirem de lances por si criados a partir da ala direita, mostrando que, sem a ajuda da equipa, desequilibra muito mais do que, por exemplo, Diaby. Contra si, pesa a evidência de que tem poucos golos marcados esta época, estando ainda longe daquilo que mostrou no Vitória de Guimarães. Em Santa Maria da Feira teve um ou outro lance em que mostrou uma variação face ao habitual movimento de diagonal a partir da ala, nomeadamente procurando a linha de fundo para cruzar com o pé contrário (esquerdo), algo que deverá estimular para aumentar a incerteza no adversário. No último jogo (Moreirense), mostrou saber posicionar-se correctamente de forma a poder beneficiar de uma transição rápida, aproveitando depois a sua velocidade e capacidade de finta para marcar um golo ingloriamente invalidado pelo árbitro auxiliar. Jogador muito interessante e com elevada margem de progressão, necessita de estar mais concentrado e conectado com o jogo, aspectos nem sempre presentes no seu desempenho e que o vêm impedindo de brilhar mais;
  • Jovane - para além dos golos e das assistências, é um dos artesãos responsáveis pela criação de inúmeras oportunidades de golo. O jogo em Alvalade, para a Taça de Portugal, contra o Rio Ave, mostrou-o em abundância, quando visou Acuña em dois passes açucarados de ruptura que, posteriormente, permitiram ao argentino fazer duas assistências para golo. Adicionalmente, alguns golos nasceram de roubos de bola deste cabo-verdiano (naturalizado português), aspecto que nem sempre é devidamente realçado ou captado por comentadores especializados e espectadores em geral. Criou-se o mito de que é mais importante para a equipa quando proveniente do banco, mas já fez grandes jogos a titular (Marítimo e Rio Ave). Tem faro de golo e facilidade de remate, destacando-se a potência e colocação do seu tiro de fora da área. Será, porventura e ainda mais do que Raphinha, o mais rectilíneo de todos os alas leoninos. Tem de melhorar a sua concentração e compreensão dos espaços onde pode perder a bola sem deixar a equipa descompensada, mas é um Mustang (adaptando o que de Quaresma dizia Boloni) e um projecto estimulante para qualquer treinador. O mais imprevisível ala leonino do momento. 

 

Bom, estas são as sensações que retiro daquilo que os meus olhos viram até agora. Abro assim este espaço para diferentes pontos-de-vista de adeptos do nosso clube (ou de outros) que queiram divergir/convergir/acrescentar elementos a esta análise que aqui deixo. A todos, o meu obrigado pela atenção dispensada. 

nani e diaby.jpeg

jovane e raphinha.jpg

22
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Sergey Cherbakov


Pedro Azevedo

"O Leão que veio do frio"

 

"Chama-se Cherbakov, é ex-soviético e ex-jogador de futebol. O seu último clube foi o Sporting, que o perdeu - ele também perdeu a sua carreira desportiva - devido a um estupido acidente de viação, motivado por uma noite em que, inconscientemente, arriscou tudo perder numa roleta russa de inspiração dionisíaca que o deixou paraplégico da cintura para baixo.

 

Vi pela primeira vez o Sergey jogar no velhinho Mário Duarte, em Aveiro, um acanhado campo inserido num jardim público, detalhe premonitório que anunciava o nascimento de uma bela flor do canteiro leonino.

 

A sua técnica - aliada à sua robustez e boa capacidade de remate - rapidamente me conquistou, mas ainda havia quem duvidasse...

 

Um dia, a vinte e quatro de Novembro do ano de mil novecentos e noventa e três, Cherbakov subiu ao Olimpo onde só os deuses se passeiam. Jogava-se uma partida da UEFA, em Alvalade, contra o Casino Salzburg, e o nosso Cherba apostou as "fichas" certas. O seu golo foi um "all-in" que definitivamente afastou quaisquer vozes críticas: à saída do seu meio-campo, recebeu de pé esquerdo, serpenteou pela direita, aguentou o peso do primeiro adversário sobre o seu ombro, serpenteou pela esquerda, agora suportando a carga de um segundo austríaco pelas costas, a todos fugiu, imponentemente, como se tudo fizesse parte de um plano divino já pré-definido que qualquer contrariedade apenas atrasaria, e disparou um míssil daqueles provenientes da Guerra Fria, ansioso por finalmente se libertar, explosivo, que só parou nas redes. Golo!

 

Inesquecível! Cherba começava o caminho que muitos antecipavam o ir levar à Bola de Ouro. Tinha tudo, menos tino. A Perestroika era recente, os excessos da liberdade recém-adquirida compreensíveis e ainda havia os colegas russos do outro lado da Segunda Circular...

 

Dionísio e os restantes deuses, por um momento, fecharam os olhos e a tragédia aconteceu.

 

No final, um lamento, o de Cherba ter faltado ao encontro com a sua história, aquela que começara a desenhar nas quatro linhas. Por ele e por todos nós."

Resultado de imagem para cherbakov golo ao casino salzburgo

21
Jan19

Ala, que se faz tarde!


Pedro Azevedo

As posições que suscitarão maiores dúvidas nos adeptos leoninos serão as dos alas (esquerdo e direito). Habitualmente, Nani e Diaby são os homens chamados à titularidade, mas tal não é consensual para a bancada. Há quem peça por Raphinha e quem queira ver Jovane de novo no relvado. A maioria não compreende a fixação de Keizer em Diaby, alguns insistem, incompreensivelmente, em assobiarem Nani com o argumento de que se agarra muito à bola. Nestas coisas, quando grassa a dúvida, nada como nos agarrarmos às estatísticas. Assim sendo, realizei um estudo com duas vertentes: numa primeira, porventura mais simples, fui ver os minutos de utilização de cada jogador e depois dividi-os pelo número de golos obtidos; numa segunda análise, mais fina, dividi os minutos de utilização de cada jogador pela sua contribuição (Golos, Assistências, Participação importante) para os golos.

Os resultados apurados apontam para uma conclusão definitiva: tanto por um critério como pelo outro, Nani e Jovane têm os melhores indicadores de desempenho, pelo que deveriam ser eles a compôr a dupla ideal. Por isso, ala que se faz tarde, Diaby tem de ceder rapidamente o seu lugar na equipa a fim de que o desempenho colectivo da equipa melhore.

 

 GAPminutosG/min.Influência/min.
Diaby6131448241145
Jovane44989922553
Nani9541980220110
Raphinha314967322121

 


jovaneenani.jpg

21
Jan19

Rotatividade


Pedro Azevedo

Marcel Keizer tem vindo a rodar pouco a sua equipa tendo em vista a preparação da fase decisiva da época, optando por usar sempre o mesmo núcleo duro de jogadores. Ora, tendo em conta o actual estado físico da equipa, que tem sido assacado a uma deficiente pré-época, seria prudente que se alargasse o leque de opções disponíveis, nomeadamente começando a dar minutos aos jogadores comprados em Janeiro. 

Atrás é onde temos menos opções: para além de Salin, alternativa credível a Renan, todo o actual quarteto defensivo é indispensável, sob pena de flagrante queda de qualidade. Assim, Bruno Gaspar não cumpriu aquilo que prometia e hoje está uns furos abaixo de Ristovski, inclusivé onde se presumia que pudesse ser mais forte, isto é, no apoio ao ataque. Além disso, o macedónio é muito mais intenso. Jefferson está a anos-luz da capacidade de luta, comprometimento e disponibilidade física de Acuña, e apenas André Pinto se apresenta como hipótese, embora sem a mesma qualidade, caso Coates ou Mathieu cedam.

Onde me parece que Keizer já deveria ter mexido mais é no sector intermédio e no ataque. No miolo, Miguel Luís está fora da equipa há 4 jogos, algo aparentemente incompreensível para o adepto comum dado que até tinha contribuido decisivamente para a vitória no último jogo em que participou. Desde aí, alternou banco com partidas em que ficou fora da convocatória, não voltando a pisar um relvado. Poder-se-à argumentar que a qualidade do plantel aumentou com o Mercado de Inverno e que há mais soluções, mas a verdade é que Francisco Geraldes foi apenas convocado neste último jogo. Inclusivé, Bruno Paz, que tanto havia prometido contra os ucranianos do Vorskla, não voltou a ter uma oportunidade, algo infelizmente comum a toda a equipa de sub23, da qual outra opção possível para a primeira equipa, Daniel Bragança, já saiu para um clube da Segunda Liga (Farense), presumivelmente para substituir o escocês Ryan Gauld (de volta ao país natal) com quem o Sporting tem uma dívida grande por gestão caótica da sua carreira desportiva. A insistência de Keizer em levar laterais para o banco também tem condicionado a rotatividade no miolo. Sabendo-se que André Pinto pode remendar a lateral direita e que Mathieu até já foi lateral esquerdo, talvez bastasse convocar Pinto, o que libertaria 3 médios e 2 avançados para o banco. Assim, Geraldes e Luís poderiam coabitar no banco, juntando-se a Petrovic, sendo o sérvio a opção mais defensiva (onde caberá o recém-contratado Idrissa Doumbia?). Em relação ao ataque, o período de menor fulgor de Dost já deveria ter sido aproveitado para dar mais minutos a Luís Phellype. Este estreou-se contra o Feirense e deu muito boas indicações, inclusivé mostrando-se mais forte que o holandês na acção de remate de fora da área, onde mostrou potência e colocação. Também a insistência em Diaby tem vindo a limitar as hipóteses de Jovane Cabral (e, em certa medida, também de Raphinha). O ala nascido em Cabo Verde, com muito menos minutos de utilização, tem uma influência no ataque muito superior à do maliano, tendo participado em 17 acções decisivas para golo contra apenas 10 do ex-jogador do Club Brugges. É, por isso, incompreensível que vá tão pouco a jogo ultimamente, enquanto Diaby está de pedra e cal, apenas tendo falhado o recente jogo de Santa Maria da Feira, concomitantemente a partida que me pareceu mais conseguida deste Sporting da era Keizer.

Dadas estas condicionantes, chegamos Quarta-feira ao primeiro mata-mata com grau de dificuldade elevado da época com uma equipa pouco rodada em termos de alternativas de posicionamento ofensivo. Geraldes não foi testado, nem no lugar de Bruno Fernandes nem no de Wendel (recuaria Bruno), não se percebendo o que pode sair dali. Também Phellype nunca foi experimentado em parelha com Dost, outra possibilidade não trabalhada. Portanto, caso seja necessária a sua utilização contra o Braga, ou se tratará de mera troca por troca ou então, qualquer coisa de diferente que venha a ser testada será um enorme tiro no escuro. É que de nada serve querermos um plantel com mais soluções (e agora temo-lo) se depois jogarem sempre os mesmos.

20
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Alberto Acosta


Pedro Azevedo

"Uma última Cruzada"

 

Era uma vez um clube, mais do que um clube, uma gente, leonina no esforço, na dedicação, na devoção, que há 18 anos (des)esperava por a glória.

Era uma vez um homem, anafadito, engongado, empenado, trintão, cansado de árduas batalhas disputadas em múltiplos continentes, em França, no Japão, na Argentina e Chile.

Nos últimos dois anos, lutara por os bastiões da "(Union de) Santa Fé" e "(Universidad) Católica".

Um desafio se propunha a este herói improvável: travar uma última Cruzada em Portugal, no Sporting.

Um dia reuniram-se em Lisboa. O início não foi promissor, uma maleita (ciática) afectava o velho guerreiro. Um ano passou e Acosta (era este o seu nome) regressou à relva santa de Alvalade com o intuito de a conquistar. Tinha precisamente a idade com que Cristo morreu.

Quando vozes críticas já lhe davam a certidão de óbito, Acosta renasceu como a Fênix, qual "vento que, apesar de velho, continua a soprar".

Da Curva-Sul começaram a ouvir-se cânticos inspiradores que comemoravam as suas proezas e façanhas tamanhas. Sempre em crescendo, até aquele dia, o dia do juízo final, 18 de Março de 2000, em que um pobre e humilde Secretário sucumbiu no pé direito daquele guerreiro, daquele Matador.

A sorte da guerra mudou nessa batalha e o estandarte verde-e-branco ficou bem erguido na frente de outras tribos. Até ao final: a Batalha de Salgueiros*.

E de Salgueiros não saímos chorões, antes em Glória, e em cortejo o povo festejou a vitória das nossas cores líderadas por aquele cruzado argentino que em boa-hora nos visitou. E, em sua memória, para sempre ecoará:

"Matador, Matador, Beto Acosta, és o nosso Matador..."

 

*Salgueiros: espécie de Chorões, árvores de ramos longos e pendentes.

acosta1.jpg

20
Jan19

Cuidado com as comparações(2)


Pedro Azevedo

Muito se tem falado da peseirização do futebol de Keizer e a verdade é que nalguns jogos Keizer esteve longe de ser Keizer, mas confundir a entrada nos últimos minutos de Petrovic - e concomitante adopção do duplo-pivot - com uma táctica de raíz que partia do duplo-pivot e, por vezes, evoluia (com muito tempo para jogar) para um trivote parece-me um absurdo.

Em simultâneo, existem outros críticos que censuram Keizer pelo seu futebol iminentemente ofensivo (em que ficamos?) e falta de compensação defensiva, situações apresentadas como causas para o nosso afastamento do título. Segundo esta teoria, Peseiro só estava a dois pontos do líder quando foi afastado e a sua substituição foi um erro.

Tendo ontem Keizer cumprido o seu 14º jogo ao leme da equipa principal do Sporting, exactamente o mesmo número de jogos em que Peseiro foi o timoneiro, já é possível estabelecer uma comparação fidedigna. E a verdade é que os números são arrasadoramente favoráveis a Keizer. Ora vejamos: Peseiro venceu 9 jogos (64,3%), empatou 1 (7,1%) e perdeu 4 (28,6%); Keizer triunfou em 11 jogos (78,6%), igualou 1 (7,1%) e foi derrotado em 2 (14,3%). O coruchense efectuou 8 partidas para a Liga, uma para a Taça de Portugal, duas para a Taça da Liga e 3 para a Liga Europa, o holandês jogou igual número de partidas para a Liga, 3 para a Taça de Portugal, uma para a Taça da Liga e duas para a Liga Europa. Registe-se que a contar para a Liga ambos ganharam 5 vezes, empataram uma e perderam duas. Analisando os golos obtidos e sofridos não deixamos de nos surpreender: a corrente realista que tanto elogiou a apreguada contenção defensiva de Peseiro não pode deixar de ignorar que nesses 14 jogos o treinador português só consentiu menos um golo que o holandês (14 contra 15), o qual é criticado pelo excessivo balanceamento atacante e falhas no processo de transição defensiva; já os números atacantes de Keizer falam por si próprios e envolvem uns esmagadores 41 golos marcados, contra apenas 24 de Peseiro, indicador que dá argumentos suficientes aos defensores de uma corrente, vamos lá, romântica de ver o jogo.

Em abono da verdade, talvez a verdade esteja no meio, como aliás muitas vezes acontece. Essencialmente, não me parece que a tentativa de procurar um equilíbrio entre as acções ofensivas e defensivas, por parte de Keizer, esteja a ser particularmente bem sucedida. Se analisarmos os seus sete primeiros jogos, o holandês fez o pleno de vitórias e a equipa marcou 30 golos e consentiu 8. Nos últimos sete, Keizer venceu 4, empatou 1 e perdeu duas vezes, marcando 11 golos e sofrendo 6. Poucas melhorias defensivas para tão flagrante perda de explosão ofensiva, e a sensação de que só nos 2 jogos com o Feirense a equipa foi leal o tempo todo à filosofia inicial de Keizer. Por tudo isto, mais do que compararmos Keizer com Peseiro, devemos é comparar os dois ciclos do treinador holandês e perceber o que mudou, no sentido de aferirmos se não valerá a pena uma nova inflexão que privilegie o futebol posicional que tão bons resultados nos trouxe inicialmente. Essa, para mim, é uma das discussões possíveis, a outra é sobre a controversa utilização de jogadores como Bruno Gaspar ou Diaby, súbita exclusão de Jovane e Miguel Luís ou falta de oportunidades de Luíz Phellype, tentando perceber se os que estão em melhor forma estão a ir (ou não) a jogo. 

keizer5.png

peseiro.jpg

19
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Acuña contra os cónegos


Pedro Azevedo

Hoje, pela primeira vez na temporada, faltei a um jogo da Liga em Alvalade. As nuvens negras e a dupla Costa/Capela ameaçavam tempestade, razão pela qual me decidi pelo sofá. Mas não fiquei só, o Bas Dost também seguiu a mesma opção, provavelmente a sonhar com Madrid. Também não me desiludi: não só a chuva caiu durante praticamente todo o jogo como árbitro e VAR estiveram à altura de duas carreiras recheadas de tantas decisões polémicas que não caberiam na edição completa da Enciclopédia Luso-Brasileira. Este tomo em particular começou num lance entre Acuña e Arsénio, com o cónego a parecer ter sido desviado com os braços na área leonina, e acabou num despautério total.

 

Os jogadores do Sporting entraram interessados em mostrar que têm treinado as bolas paradas: aos 2 minutos, Nani apareceu no primeiro poste a desviar (de cabeça) para golo um canto marcado por Acuña, e o mesmo argentino logo de seguida bateu um livre para Diaby acrescentar mais um capítulo ao seu futuro Best Seller "Mil e uma maneiras de falhar um golo", actividade certamente lucrativa (ou não fosse o valor da sua contratação) na qual substituiu outro autor consagrado que passou por Alvalade, o costa-riquenho Bryan Ruiz. Por volta dos 25 minutos a jogada repetiu-se e com o mesmo resultado. Valha a verdade que houve intervenção de Jhonatan, que adivinhou o lance (ou não tivesse o "h" adiantado "nas horas"), e do travessão. A bola, teimosamente, resistiu a ultrapassar a linha de fundo e Bruno Fernandes apanhou-a, afagou-a e serviu Ristovski para nova defesa de Jhonatan. Do ressalto, Bruno Fernandes fez o segundo, coroando a fase matraquilhos da partida. 

 

Acuña era o homem do jogo, no relvado e na televisão. Durante um quarto-de-hora, Rui Pedro Rocha manteve que o argentino tinha rescindido no Verão com o Sporting e que, posteriormente, se havia arrependido e regressado. Após o 2-0, lá desfez o equívoco. O Sporting dominava e Bas Dost falhou escandalosamente à boca da baliza um passe de Ristovski. Logo de seguida, novo caso do jogo: Bas Dost foi derrubado por um defensor moreirense quando se isolava para receber um passe de Diaby, sobrando a dúvida se foi fora ou dentro da área. Nem "penalty" nem expulsão, Rui Costa deixou prosseguir e, após 2 minutos em que o jogo não parou, o Moreirense reduziu, num golo de Heriberto. Estalou a polémica, entrou o VAR em cena, mas o Sporting, em vez de se ver com um jogador a mais e/ou com uma vantagem muito provável de 3 golos no marcador, acabou por ficar a liderar por apenas um golo de diferença. Um clássico com este árbitro, que já na temporada passada havia ignorado o apelo do VAR para uma grande penalidade cometida sobre Gelson, mantendo após visionamento das imagens a sua interpretação de simulação do (aí) ala leonino e respectivo cartão amarelo.

 

Ao intervalo, a SportTV mostrava William nos camarotes de Alvalade. Ouvi qualquer coisa do Rui Pedro Rocha sobre isso, mas depois da confusão criada com Acuña não lhe dei grande credibilidade, pelo que fiquei sem saber se o médio também se arrependeu e se é reforço de Inverno. O segundo tempo iniciou-se e o público ia pautando as poucas faltas marcadas pelo árbitro a nosso favor com aplausos. Nesse transe, o cartão amarelo mostrado a Chiquinho (falta sobre Bruno Fernandes) mereceu até uma ovação. No entanto, rapidamente o Sporting nivelou os cartões, numa fase em que Gudelj filantropicamente preveniu o aparecimento de varizes em vários dos seus adversários, insistindo em que não ficassem de pé durante muito tempo. O Sporting estava mais lento, acusando o cansaço da intensidade posta no jogo de três dias antes, e Diaby conseguia estragar imensas jogadas. Aliás, o ala nunca poderá seguir uma carreira pós futebol na organização de eventos, pois não sabe preparar recepções, até porque as condimenta com demasiada canela. (Já Francisco Geraldes é hoje mais Relações Públicas do que jogador, pelo menos a avaliar pela venda de gameboxes e pelas oportunidades que lhe dão para jogar à bola.) Esperava-se a saída do maliano, mas Keizer surpreendeu ao substituir Nani por Raphinha. O ex-vimaranense entrou com vontade de ganhar a titularidade e marcou à primeira oportunidade. Auxiliar e VAR conseguiram ver um milimétrico fora-de-jogo e anularam o golo da tranquilidade. O martírio da arbitragem prosseguiu quando Wendel foi carregado duramente por trás e o cartão vermelho correspondente foi trocado por um de cor amarela, em jogada que obrigou à substituição do brasileiro e regresso do duplo-trinco (entrada de Petrovic). Até ao fim do jogo ainda houve alguns calafrios provocados por cantos contra nós, mas o triunfo acabaria por ser do Sporting, mesmo que Acuña tenha tido muitas vezes que se superiorizar a dois ou três adversários por falta de ajuda de um Diaby que miraculosamente conseguiu ficar os noventa minutos (mais os descontos) em campo. O ex-Racing de Avellaneda, aliás, foi o melhor em campo, atacando também com grande brio e qualidade, nomeadamente cruzando sempre com eficácia. Fico agora à espera que não cruze também o continente, de oeste a leste, e acabe em São Petersburgo, até porque a equipa precisa de jogadores com esta raça e atitude no relvado.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Marcos Acuña. (Gostei também de Mathieu, Ristovski e de Bruno Fernandes, embora este último não tenha estado particularmente inspirado.)

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(Fonte Imagens: A Bola)

19
Jan19

Xeque-mate!


Pedro Azevedo

A base da ideia de jogo de Marcel Keizer é o domínio do centro, um processo também comum ao xadrez. Por isso, logo à tarde, temos de dispôr as nossas peças no tabuleiro (axadrezado) moreirense de forma a que possamos rapidamente obter o xeque-mate. Os pontos fortes da equipa de Moreira de Cónegos residem no seu meio-campo: à experiência de Fábio Pacheco, potência de Loum e destreza de Chiquinho, somam-se a qualidade técnica, habilidade no 1x1, diagonais e facilidade de remate dos alas Heriberto ou Arsénio que se podem tornar letais para os seus adversários. O ponto fraco será a sua defesa, hoje desfalcada simultaneamente de Ivanildo (emprestado pelo Sporting), Abarhoun (vendido ao Rizespor) e João Aurélio. Há, por isso, que exercer pressão logo à saída de bola e ir flanqueando o último reduto adversário à espera de que se abra uma brecha no centro que deixe Jhonatan desguarnecido. À partida será o suficiente, desde que os cónegos não venham a contar com um inesperado apoio dos bispos.  

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19
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Samuel Fraguito


Pedro Azevedo

"MENINO DO RIO"

 

"...E lá ia ele, cabeça levantada e olhos de falcão, sempre à procura de fazer nova presa, um passe teleguiado para golo.

 

E para economia de recursos (e descanso da canhota), o pé direito a trabalhar, parte de dentro aqui, parte de fora, acoli. Quaresma? Quaresma ainda não era nascido e já ele espantava meio-mundo como o Rei das Trivelas.

 

E a multidão ululante, animada por os Vapores do Rego, jovens estudantes brasileiros que iam a Alvalade tirar a "especialização".

 

E ele - que saíra em bebé para o Brasil, donde só voltara aos 15 anos, depois de 5 anos a jogar (e ganhar) no Fluminense - a deslumbrar no relvado, ao ritmo do samba que lhe encantava o corpo.

 

E eis que ergue a batuta e toda a equipa gira à sua volta numa mágica dança que é um pagode para os olhos.

 

E o povo reza, reza para que os seus joelhos não cedam hoje - sete operações são muito mais do que a conta para um homem - porque merece ver todo o sumo extraído deste senhor jogador nascido no Douro Vinhateiro.

 

E todos na bancada recordam no seu subconsciente aquele jogo internacional em que, junto à linha de fundo, usou os pés como tenazes - o mexicano Cuauhtémoc Blanco ainda não era nascido - e golpeou a bola por cima de 2 adversários incrédulos com o que viam, para depois centrar com precisão de regúa e esquadro para Yazalde finalizar.

 

"Ecce homo"! Samuel Fraguito, o Menino do Rio, Estrela da Abobeleira, génio e homem do futebol de rua ou de praia. De Copacabana, com amor (por o "belo jogo")!"

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18
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Vítor Damas


Pedro Azevedo

"O Leão Branco"

 

"Há um antes e um depois de Vítor Damas. Nas peladas de rua ou em terrenos baldios, nos relvados do futebol profissional.

Antes dele, quando um grupo de rapazes traquinas se juntava para "jogar à bola" ninguém queria ir à baliza. Os garotos eram Figueiredo (mais tarde, Peres) ou Eusébio, mais remotamente, Peyroteo ou Espírito Santo, mas nunca guarda-redes. Por isso, o engenho dos rapazolas criou a figura do guarda-redes avançado, limitando os danos de quem era incumbido de tão maçadora, quão castradora, missão. Mais tarde, nova engenhoca dos petizes e o "keeper" ia rodando entre todos os compinchas para não penalizar por muito tempo qualquer um deles.

Até que surgiu Damas. Como outrora dizia Comte, "tudo na vida é relativo, e isso é o único valor absoluto". Damas foi o maior porque enorme era Eusébio e vice-versa, tal "yin" e "yang", dois seres que se complementavam e davam corpo à sua existência, em que o "yin" era Damas, com a sua elegância e sapiência na baliza que transmitiam grande tranquilidade à equipa e aos adeptos, e o "yang" era Eusébio, com a sua vigorosa acção criativa digna de um Rei. Se Eusébio era o Pantera Negra (cientificamente, mutação genética de uma Panthera, designada por "melanismo", Damas era o Leão Branco ("Panthera Leo", mutação genética oposta ao melanismo, designada por "leucismo").

Quando em 9 de Novembro de 1969, Damas realizou a "parada do campeonato", ajudando o Sporting a ser campeão com uma defesa por instinto após cabeçada de Eusébio, não foi só o Pantera Negra que, já festejando de braços abertos, ficou incrédulo. O estádio inteiro "se levantou" para aplaudir, consciente de que tinha assistido a uma impossibilidade física, como se outra dimensão tivesse penetrado no nosso Sistema Planetário. Eusébio teve consciência desse momento e imediatamente, como grande desportista que era, correu a abraçá-lo, contribuindo para elevá-lo à imortalidade.

Este duelo perduraria até Eusébio "pendurar as botas", o que, acto contínuo, foi seguido por a saída de Damas do Sporting, rumo à Espanha, quiçá por falta de motivação, por sentir que o grandioso combate jamais se repetiria.

Assim acabariam 9 anos de expoente máximo, de fábula, de encantamento, embora Damas ainda tenha regressado, anos depois, para cumprir 5 boas épocas.

Outro momento de Ouro, viveu-o em Wembley, ao serviço da Selecção Nacional, em 20 de Novembro de 1974, aguentando estoicamente, com 6 grandes defesas, um empate a zero do Portugal "dos pequeninos" (Octávio, Alves, Osvaldinho,...) contra os super-favoritos ingleses. Uma dessas defesas ficou conhecida nos "media" britânicos como "a defesa do Século " (Vídeo abaixo) e foi mais ou menos assim: perda de bola na esquerda da nossa defesa, por Osvaldinho, contra-ataque inglês, bola em Gerry Francis, isolado na área, pela direita, simulação de remate e cruzamento para trás onde apareceu David Thomas a encostar, a meia altura, para a baliza deserta (Damas ficara a tapar o primeiro poste e a hipótese de remate). Eis que surge então Damas, felino, o Leão Branco, em extensão inimaginável, a sacudir a bola na exacta projecção dos postes perante a descrença do jogador inglês.

Com a emergência de Damas, nas peladas, em balizas improvisadas com malas da escola, já todos queriam ser Damas e imitar o ídolo, o mito, a sua elegância, agilidade, elasticidade, diria até, plasticidade entre os "postes".

E nos relvados do futebol profissional, todos os guarda-redes se inspirariam nele, herdando o seu estilo proactivo em detrimento de uma doutrina antiga mais reactiva, passando a ser mais intuitivos, instintivos e antecipativos, tentando adivinhar o movimento do avançado adversário.

Que saudades de ver Vítor Damas, o Eusébio do Sporting nas sabias palavras de outro grande, Carlos Pinhão. Devido a ele, eu também FUI, SOU e SEREI DAMAS."

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17
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - À bomba!


Pedro Azevedo

Com o nosso melhor "onze" em campo, o Sporting voltou ao Keizerbol e desperdiçou inúmeras oportunidades. Deu até para o "remake" da adaptação leonina de "A Vida de Bryan", agora com Bas Dost como protagonista de mais um falhanço digno dos apanhados. Sem William...Tell, restou trocar a perícia pelo assalto à bomba, missão de que Wendel e Bruno Fernandes se encarregaram finalmente com sucesso.

Como bem sabemos, no futebol português, o resultado influencia em 99,99% a análise que se faz de um jogo. Na verdade, deveria ser a análise a explicar o resultado, mas não, por cá o resultado é que explica a análise. Vai daí, o Sporting fez, provavelmente, a exibição mais conseguida da era Keizer, mas ouvindo os comentadores ao intervalo não se ficava nada com essa ideia. No entretanto, Raphinha, Wendel e Bas Dost tinham tido a oportunidade de activar o marcador (com um tal Brígido sempre a estorvar) e o holandês chegou mesmo a fazê-lo, mas, à falta de VARíssimo, o Veríssimo decidiu que não. Do outro lado, de realçar apenas uma bola parada terminada com uma defesa de Salin a um remate (fora-de-jogo?) de ângulo difícil de Valência.

 

O segundo tempo começou praticamente com o tal falhanço absurdo de Bas Dost - só essa oportunidade mereceria uma crónica sobre a angústia de um avançado na hora de acertar mal na bola perante uma baliza escancarada - , logo seguido de um cabeceamento de Nani que passou ligeiramente por cima do travessão. Trocando a bola com eficácia, o Sporting ia destruindo as marcações dos fogaceiros, mas faltava sempre qualquer coisa na hora da concretização. Por ironia, acabaria por ser um solo de Wendel a resolver o problema: o brasileiro pegou na bola na meia esquerda, flectiu para dentro, com uma maldade tirou um defensor contrário da frente e decidiu-se por um remate em arco, misto de jeito e força, que só parou no fundo das redes e de uma forma que nem Santa Maria pôde ocorrer aos da Feira. Logo de seguida, uma bola que ressaltou para a entrada da área, após canto tenso de Acuña, foi parar ao pé direito de Bruno Fernandes. O maiato rematou de pronto, tão forte e colocado que nem deu tempo de reacção ao guarda-redes adversário. 

 

Até ao fim, de registar a estreia de Luíz Phellype, o qual se tiver a predisposição para os golos que tem para as consoantes será um caso sério. Para já, mostrou pontaria a mais, num tiro que acabou no poste da baliza feirense. Por último, uma menção especial para a actuação do guarda-redes Salin, o único leão que não entrou em descompressão após o segundo golo do Sporting, o que lhe permitiu evitar por três vezes o golo do Feirense, naquilo que podia ter sido uma inadmissível nódoa na exibição leonina e que envolveu pelo menos mais uma momentânea perda de razão do nosso defesa Coates. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel 

wendel.jpg(Fonte de imagem: Record)

16
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Hector Yazalde


Pedro Azevedo

"Um anjo com cara de índio"

 

"O menino permanecia imóvel, como que hipnotizado, diante do imponente Blaupunkt com gravador de bobines, gira-discos e, mais importante, rádio de válvulas onde se podia ouvir a BBC. Nesse dia, 31 de Março de 1974, o rádio não estava sintonizado na popular estação britânica, mas sim na Emissora Nacional. A dupla Fernando e Romeu Correia relatava um Sporting-Benfica, o último derby antes da Revolução de Abril, e a vibração da sua narrativa exercia um magnetismo ímpar no menino.

Eram 15h08 e Portugal inteiro parou: os locutores tentavam descrever, ainda incredulos, o que haviam presenciado. Hector Yazalde, o anjo com cara de índio, desafiara o impossível, qual cavaleiro alado mergulhara em voo rasante entre os pés do Monstro Humberto e do intratável Barros e, a vinte centímetros do solo, cabeceara (!) a bola na direcção da baliza. Golo!

O jogo continuaria, mas já não seria o mesmo. Naquele momento, ao minuto 8, os espectadores no Estádio sentiram-se recompensados por anos de "idas à bola". Yazalde ainda voltaria a marcar e o Benfica até acabaria por ganhar, mas o Jogo, esse, terminara há muito.

A última aparição pública de Marcelo Caetano (Abril estava mesmo ali), a ovação tremenda e, ver-se-ia, tão enganadora, foi simplesmente olvidada, menosprezada. O momento era de Yazalde, o corajoso e temerario Chirola, o Homem que nunca esquecera as suas origens humildes e que sempre que saía de um treino, presenteava todos os jovens desfavorecidos que o abordavam com tudo o que tinha nos bolsos, entretanto previamente provisionados, o colega que, uns meses depois, quando lhe atribuíram um Toyota, como prémio pela Bota de Ouro europeia, decidiu vender o automóvel e distribuir o dinheiro que daî resultou, equitativamente, por todos os colegas de equipa.

Nesse dia, todos queriam ser Yazalde, até os políticos e os capitães queriam ser Yazalde e Yazalde deixou de ser humano para se tornar um mito em Alvalade, génio impulsionado pela sua musa, a bela Carmén, a quem um dia Beckenbauer, no Lido de Paris após a cerimónia de entrega do Bota de Ouro, disse ser a mais bela de todas as mulheres de jogadores de futebol.

E, o menino? O menino imaginava aquele momento do golo, a ousadia do dianteiro, o espanto dos defesas, o desespero do guarda-redes José Henrique, o Zé Gato, que nesse transe perdera a última das suas sete vidas, sendo substituído ao intervalo por Manuel Galrinho Bento (esse mesmo). E o menino sonhava com isto tudo, estado que se prolongou por todo o Domingo.

No dia seguinte, vestiu a mítica camisola verde-e-branca, com o número 9 cosido nas costas (comprada na Casa Senna), bola na mão, e abalou a caminho da escola, confiante de que a partir daí, nada na sua vida seria impossível de alcançar. Aprendera com o melhor..."

(publicado anteriormente pelo autor no blogue "És a nossa Fé")

hector yazalde.jpg

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