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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

31
Jan19

O que se passa?


Pedro Azevedo

De repente, Miguel Luís e Jovane Cabral desaparecem da equipa. Os Sub23 nunca mais foram a jogo, mesmo quando, por exemplo, faltam um defesa central ou um ponta-de-lança de raiz, o que é um sinal muito pouco encorajador e/ou estimulante para os jogadores e coloca em causa o objectivo destes projectos de Sub23 e/ou equipas B. Francisco Geraldes ainda não se estreou. O auspicioso futebol de Keizer tornou-se aborrecido e previsível. O treinador parece ter sucumbido à tentação de se adaptar ao futebol português. Os movimentos de aproximação à bola característicos do primeiro período de Keizer estão em desuso, eventualmente por se sentir o cansaço de um conjunto de jogadores que nunca descansam. Com isso, desapareceu o carrossel mágico que nos entusiasmava e começamos os jogos a dar avanço ao adversário. A equipa actualmente joga em esforço. As contratações parecem ter o mesmo (não) sentido de sempre: vem Ilori, quando temos os mais jovens Domingos Duarte e Ivanildo a rodarem noutras equipas, chega um jogador sem qualquer experiência na Europa e prestes a perfazer 26 anos (Borja) e vai embora um jovem com mais internacionalizações (Lumor), apenas 22 anos e há 4 anos a jogar no continente europeu. Enfim, parece acumulação de stocks e ausência de coragem para operar a revolução de que o clube necessita. Acuña não jogou em Setúbal e parece na porta de saída. Como é que se pretende ganhar campeonatos cedendo jogadores que aliam raça, brio, boa técnica e que fazem da regularidade, empenho e comprometimento com a equipa as suas principais armas?

 

O que está na origem da mudança de paradigma do treinador holandês? Qual é a sua autonomia? Quem são as suas influências em Alvalade? Quem é que lhe dá informações sobre os clubes portugueses? É Rodolfo Correia, treinador adjunto, que estava na Arábia Saudita? É Nélson, que tem a função específica de treinador de guarda-redes? Qual a razão para não dar rotatividade à equipa? Não confia na maioria dos jogadores? Faz sentido pagarmos a 25 e só contarem 15? Se não servem nem para uma emergência, que sentido faz ter planteis completos de Sub23? Até quando vai o Sporting conseguir sobreviver com este tipo de políticas? Qual a opinião dos dirigentes leoninos sobre arbitragens como as que assistimos ontem? Estamos reféns das nossas palavras? Estas e outras perguntas permanecem sem resposta no universo leonino. E é pena. Essencialmente, porque tivemos um Outono de esperança, mas parece que voltámos ao ponto de partida. Ainda assim, com uma saborosa vitória na Taça da Liga pelo meio, convém não esquecer.

31
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - O metereologista


Pedro Azevedo

Ainda me lembrava do Costa Malheiro, do tempo em que apresentou o boletim metereológico na RTP. Sabia do seu conhecimento e fluência, qualidades que de resto também eram comuns ao colega Anthímio de Azevedo. Ambos marcaram uma época televisiva em que ainda não havia meninas da SIC e as únicas curvas visíveis no ecrã eram as linhas de umas parábolas marcadas a giz num quadro verde. Estranhei por isso quando soube que iria apitar o nosso jogo em Setúbal, mas associei-o logo a ciclones e centros de baixa pressão, os quais geralmente indiciam que vem aí mau tempo. Precavido, tentei saber mais sobre o assunto. Consultado o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, percebi que os centros de baixa pressão se concentram à superfície, o que traduzido para futebolês e para a realidade que se iria viver no Bonfim significaria junto à relva. Temi o pior.

 

Ao ver a constituição da equipa do Sporting percebi que apenas Acuña tinha sido poupado. Não para o derby, mas sim para...o Zenit. Fez sentido!

Nani estava no banco, numa espécie de plano de emergência, para não lhe acontecer o mesmo que a Liedson aqui há uns anos, não fosse o árbitro ser levezinho na mostragem de um amarelo. Check!

Ainda não estavam decorridos 10 minutos de jogo e Malheiro marcou uma falta a Petrovic. Estabeleceu-se um diálogo entre os dois, onde o sérvio, com o nariz fracturado, terá verbalizado um "não me cheira" e o homem do apito gestualmente apresentado um cartão amarelo. É no que dá usar uma máscara. O árbitro entrava em cena com cerca de 10 minutos de atraso e em sincronia perfeita com Varandas (esperara pelo último homem a entrar), naquilo que seria um duro teste às convicções do presidente sobre "histerias" e "cobardias".

Começou então a aparecer Bas Dost, na sua nova versão fofinha. Por duas ocasiões, em vez de martelar a bola impiedosamente como é habitual, tocou-a suavemente para a baliza. Resultado: dois golos perdidos. A meio da primeira parte, Cadiz apareceu só com Petrovic ao lado. O leão, já condicionado pela admoestação, não foi a banhos e também não se meteu em caldeiradas e daí resultou o golo do Setúbal. Até ao final da primeira parte criámos novas oportunidades, com Raphinha e Dost a voltarem a não acertar na baliza. Quem não desperdiçou a oportunidade de ir ao bolso...e de lá tirar uns amarelos (4) foi o Malheiro, que distribuiu 1 para o Vitória e 3 para o Sporting.

 

No segundo tempo, o Sporting entrou mandão e disposto a dar a volta ao resultado. Em resposta, o Ruben Micael entrou brigão e disposto a dar a volta ao Doumbia. O Bruno Fernandes não se conformou, protestou e levou mais um amarelo para a colecção (7º da época), progressão aritmética de razão conhecida e que aponta para que o 10º (e concomitante paragem) coincida com a antecâmara de um qualquer jogo de importância extrema. Quem é que se atreve a dizer que a matemática não é uma ciência exacta? Salomonicamente, o árbitro pôde então dar um amarelo ao Micael. É incrível como este tipo de árbitros entendem de sucessões...

A seguir, o Mendy espetou uma cotovelada no Ristovski. O lateral ficou estendido no relvado e o jogo prosseguiu sem que Malheiro tivesse descortinado qualquer razão para falta ou sanção disciplinar. Com a cabeça quente e a testa inchada, facto visível desde a Lua, Ristovski terá dito qualquer coisa ao árbitro, estabelecendo-se a dúvida se o leão já seria fluente em português ou se o árbitro entenderia macedónio. O que não se entende é que tenha expulsado o nosso jogador. É caso para dizer que foi "galo"!  

 

A perder e com menos 1 jogador em campo, o Sporting lançou-se num "Kamikeizer" de apenas 3 defesas. Primeiro, Petrovic, Coates e Jefferson, mais tarde Bruno Gaspar, Coates e Jefferson. Oscilando entre o 3-3-3 e o 3-2-4, para terminar num "tudo ao molho e fé em Deus" em que Nani e Bruno Fernandes chegaram a ser os homens mais recuados. Nesse transe, a faltarem 10 minutos para o final, o agora latinizado Dost substituiu a sua faceta de bombardeiro por um toque subtil a desviar um primeiro remate de Bruno Fernandes, tendo a bola terminado no fundo das redes sadinas. Ainda havia algum tempo e os leões partiram à procura da vitória. Numa bola por alto, o guarda-redes vitoriano saiu em falso e Dost foi desviado com a anca por um adversário quando se preparava para se elevar e cabecear a bola, mas Malheiro apitou uma falta (ou fora de jogo?) imperceptível contra nós. Noutra ocasião, o Luíz Phellype tentou uma acrobacia aérea que o Malheiro caracterizou como de potencial anticiclónico e parou a jogada quando a bola sobrava para o Diaby. Pelo meio, ainda mostrou mais 3 amarelos e apitou um sem número de faltas e faltinhas pelo que o jogo lá caminhou para o inexorável fim, não sem que antes Nani tivesse involuntáriamente assistido Hildeberto para o que poderia ter sido o Bom Fim da equipa vitoriana. Renan salvou. (É impressionante como uma partida em que os jogadores se respeitaram termina com um total de 10 amarelos e 1 vermelho, com o Sporting, naturalmente, a tomar a fatia de leão, com 6 amarelos e 1 vermelho. É que quem não tenha visto o jogo pode até ficar com a ideia de que se tratava da Guerra de Tróia.) 

 

Em conclusão, o jogo acabou com um empate frustrante e com a constatação de que todos os objectivos que anteriormente neste blogue eu tinha enunciado falharam. Relembrando, estes eram:

  1. Ganhar o jogo;
  2. Poupar alguns dos jogadores mais utilizados;
  3. Dar rodagem a novos jogadores e a outros que incompreensivelmente se eclipsaram;
  4. Aproveitar para manter o "momentum" vitorioso antes da recepção ao Benfica.

 

Não só não ganhámos como, reduzidos a 10, cansámos os habituais titulares até à exaustão física e emocional. Geraldes (nem no banco estava), Miguel Luís e Jovane continuam a aprender flamengo e só Idrissa Doumbia, já com temporadas realizadas na Flandres, teve minutos. É caso para perguntar, aonde é que eu já vi isto? Querem lá ver que o Keizer ainda se vai associar à companhia de Jesus? Deus nos livre...  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel (menções honrosas para Coates e Nani, este último muito influente na recta final, pese embora aquele deslize final que poderia ter sido fatal).

 

P.S.  Infelizmente, afinal não foi o saudoso Costa Malheiro que eu vi ontem no Bonfim. O metereologista de serviço chamava-se Hélder Malheiro e há que reconhecer que previu bem o tempo que se iria fazer sentir. E de uma maneira retro, a fazer lembrar outros tempos, como quando, num quadro verde, marcou a giz o Petrovic e usou o apagador em Ristovski.

Não deixa porém de ser estranho que, estando Keizer a descrer das suas próprias ideias, venha agora a fazer escola através do senhor Malheiro, o qual ontem, por exemplo, soube repescar a famosa regra dos 5 segundos (para apitar uma falta contra nós) do holandês, característica que no estádio causou algumas irritação.

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30
Jan19

Parabéns Paulinho!!!


Pedro Azevedo

Há 33 anos connosco, Paulo Gama ("Paulinho") perfaz hoje meio-século de existência. Roupeiro do Sporting, Paulinho é uma daquelas pessoas que só faz bem ao futebol, reunindo o consenso de todos quantos com ele se cruzam. Espero, por isso, que tenhamos o prazer de o continuar a ver entre nós por muitos e muitos anos.

Dois terços de uma vida dedicada ao clube! Parabéns!!!

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30
Jan19

Estranha forma de vida


Pedro Azevedo

Vivi intensamente e fiquei louco de alegria com a vitória do nosso Sporting na Taça da Liga. Uma noite fantástica para mim, mas também para os meus filhos, que não tiveram o privilégio que o pai teve de ver o Sporting ganhar mais vezes. Não muitas mais, mas seguramente mais. Mas agora estou triste. Triste por verificar a nossa incapacidade de festejarmos juntos um triunfo do Sporting. Triste pelo nosso sportinguismo ser ultrapassado pelo desejo de revanchismo de uns ou pelo ressabiamento de outros. Triste pelos mais revanchistas serem aqueles que outrora foram indefectíveis do antigo regime, e agora vociferarem como que à procura de redenção. Triste pelos mais ressabiados não gostarem que o clube ganhe e preferirem a adoração a deuses de carne e osso em detrimento do culto ao símbolo do leão rampante e àquilo que representa. Triste por uma vitória nossa ser sempre contra alguém (interno). E uma derrota, também. Uns e outros julgam que são o Sporting, mas não representam a maioria dos sportinguistas. Estes são moderados, souberam fazer a sua reflexão, pesaram os prós e os contras e seguiram numa direcção. Serenamente e convictamente. Acima de tudo, estão com o clube, não precisam de ser contra alguém. Vão aos estádios, apoiam a equipa e não perdem a esperança. Por vezes estão mais em concordância, outras vezes nem tanto. Mas são movidos pelo Sporting. Pelo bem, por aquilo que são sentimentos positivos. Hoje como ontem. Os outros, bem, é só passarmos os olhos pelas redes sociais. E mal passaram 72 horas. A verdade é que a existência de uns radicais alimenta o outro polo radicalizado, e vice-versa. No fim, são como vasos comunicantes que precisam um do outro para sobreviverem. Nem que para isso tenham de regar a gasolina e inflamar tudo à sua volta. 

 

De nada vale batermos no peito e afirmarmos o nosso coração leonino se na hora da verdade as nossas vitórias não forem total e incondicionalmente canalizadas para onde devem ser, o clube que amamos. Que tem de estar acima de cada um de nós. Numa instituição com adeptos tão heterógeneos, só a paixão nos une. Ressabiamentos, revanchismos, cálculos políticos não devem morar aqui, a paixão sim. Porque, de outra forma, esse tipo de comportamento nefasto minará sempre o clube. Têm dúvidas? É assim há 33 anos, e mesmo João Rocha afastou-se diversas vezes devido à guerrilha montada por uma certa oposição. Hoje contra este, amanhã contra outro. Tudo gente que prefere odiar em vez de amar. Muitas vezes instigados por quem se move por interesse, vaidade, necessidade, sibilinamente na sombra. Estranha forma de vida...

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29
Jan19

Ter ou não ter Ilori


Pedro Azevedo

A acreditar nos ecos da imprensa, Tiago Ilori está em Lisboa para realizar testes médicos e assinar pelo Sporting. O valor da sua transferência será de 2,4 milhões de euros por 60% do passe, o que equivale a dizer que avaliámos o jogador em 4 milhões de euros, um valor superior ao que consta da cláusula de opção celebrada no contrato de empréstimo do turco Demiral ao Alanyaspor (3,5 milhões de euros), jogador que actualmente é pretendido por clubes de Itália, Alemanha e Espanha (para além dos "grandes" turcos).

 

Ilori fez parte de um quinteto de promessas da Academia que saltaram para a equipa principal durante uma época terrível na história do clube de Alvalade. À semelhança do ocorrido em 2016/17, em que Podence, Geraldes e Palhinha foram lançados para disfarçar uma temporada frustrante, Tiago, tal como Bruma, Dier, Pedro Mendes ou Zezinho, responderam à chamada e ainda ajudaram a evitar uma tragédia (o Sporting chegou numa fase adiantada da época a andar no 12º lugar). 

 

No início da temporada seguinte, Ilori esticou a corda e exigiu sair. Segundo as suas próprias palavras, seduzido por uma proposta do Liverpool, para dar um "salto em frente". Sabemos agora que esse salto foi para o abismo, para as profundezas de uma segunda divisão inglesa e  de uma equipa que luta para não descer (à terceira). Nada que não fosse previsível, bastaria ao na altura muito jovem jogador ter prestado atenção às palavras do "profeta" João Pinto, esse mesmo, o nº2 de Pinto da Costa. 

 

Assim sendo, esta mudança para Alvalade é muito mais importante para o jogador do que propriamente para o clube que o vai receber. Há 6 anos atrás, Tiago era um jovem promissor, apetitoso para um mercado sempre sedento de novidade. Tal como Demiral, na actualidade. Neste momento, é apenas um jogador que tomou um mau passo na sua carreira e que se perdeu. Olhando para os seus números, verificamos que desde que saiu de Alvalade realizou apenas 24 jogos (em 6 anos!!) ao mais alto nível, divididos por Granada e Bordéus. Nunca conseguiu jogar na Premier League pelo Liverpool, andou pelos sub23 do clube de Anfield e dos "Villains" (Aston Villa) e apenas no modesto Reading encontrou um espaço de afirmação. 

 

Pelo expresso em cima, Ilori precisava urgentemente de relançar a carreira e, aparentemente, o Sporting foi o único clube de dimensão disponível para lhe oferecer essa bóia de salvação. Bem sei que a nossa história está em 112 (anos completos) - o número de emergência - , mas nem estamos em época balnear (isso seria mais no Defeso) nem o clube de Alvalade é uma instituição de socorros a náufragos, mais a mais quando o naufragado renegou a nossa (e dele) praia, pelo que esta aquisição encerra riscos vários. Desde logo, no que respeita à nossa Cultura, a forma como nos vemos e queremos ser vistos pelos outros, como respeitamos e queremos ser respeitados, os valores que preconizamos e os que exigimos a quem a nós se juntar. Nesse sentido, não ter ou ter Ilori é também uma questão de ser ou não ser Sporting. E não se resolverá favoravelmente apenas com a inevitável retratação pública do jogador que a Comunicação do Sporting certamente orquestrará aquando da sua apresentação.

 

Uma instituição como o Sporting não pode estar a reboque dos caprichos, ou dos estados de alma de um jovem. Por isso, esta transferência é uma jogada de alto risco, embora como atenuante venha à memória que após difíceis negociações tenham ficado nos cofres de Alvalade 7,5 milhões de euros aquando da sua saída. No entanto, só poderá ser julgada em definitivo no futuro. Imaginando que o jogador agarra a oportunidade - a última que provavelmente terá a este nível - e se impõe, então o Sporting terá aproveitado a determinação do atleta em seu proveito próprio, também. Caso tal não aconteça, então será um "loose-loose", com prejuízos consideráveis na nossa imagem. Abrindo um alçapão para que outros usem e abusem do clube, acreditando que um dia mais tarde, candidamente, poderão voltar sem que daí advenha qualquer mal ao mundo. É isto que está em cima da mesa. 

 

P.S. Quando chegou à equipa principal do Sporting, Tiago Ilori era um jogador rapidíssimo, com bons pés, saída de bola, ideal para o actual esquema de Keizer, o qual privilegia um bloco defensivo subido e exige centrais com condução de bola (primeira linha de construção) e recuperação defensiva. Mas nesse tempo, Ilori era também macio na marcação, frequentemente demasiado confiante nas suas capacidades com bola e muitas vezes desconcentrado. Não o vi muito em acção recentemente, pelo que não sei quais as suas capacidades que evoluiram ou regrediram, apenas me parece agora mais robusto fisicamente, factor que poderá ter melhorado a sua capacidade de choque. Se isso implicou alguma perda de velocidade, francamente não sei. 

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28
Jan19

Contra o masoquismo, gestão no Sado


Pedro Azevedo

Tendo o Sporting já ganho a Taça da Liga, e estando ainda 3 provas em disputa, entre os sportinguistas é comum perguntar-se a qual competição dariam prioridade. Os argumentos são sempre os mesmos: a manta é curta (não sei se têm falado com o treinador do Feirense), houve problemas na constituição do plantel, mudanças de Direcção, et caetera e tal, pelo que não nos devemos dispersar. 

 

Ora, eu penso que deveremos tudo fazer para ganhar o campeonato da Primeira Liga, a Taça de Portugal e a Liga Europa, e assim alimentarmos a fome de títulos que um clube com esta grandeza histórica tem de possuir. Na minha modesta opinião, a questão não será tanto que expectativa de vitória deveremos abandonar, mas sim como dar rotatividade à equipa e, simultaneamente, manter a sua performance desportiva. O cansaço físico e a erosão psicológica são factores de sub-rendimento num atleta de alta-competição, pelo que é importante saber gerir bem o momento de forma e prevenir lesões ou saturação. Em suma, há que saber onde se pode poupar os atletas para que depois eles possam ter o melhor rendimento nos jogos que decidem a época.

 

A meu ver, Setúbal oferece uma oportunidade única a essa gestão. Temos jogadores que vieram de lesões e que, entretanto, já estão num ciclo maduro de jogos, os quais convém fazermos descansar. São os casos de Wendel - vem do Brasil onde se joga com uma intensidade bem mais baixa - e Nani, que aos 32 anos exige atenções redobradas. Noutro plano, será também o caso de Bruno Fernandes: o maiato, como jogador influente que é, precisa de estar no seu melhor na próxima jornada dupla contra o Benfica. Por outro lado, temos de ver isto também como uma oportunidade de começar a rotinar, dando minutos, os novos jogadores contratados, alguns dos quais poderão render no futuro aqueles que têm apresentado menor rendimento. Tudos estes factores conjugados, penso que Idrissa Doumbia (em vez de Gudelj, jogador que não tem convencido grandemente), Miguel Luís (Wendel), Francisco Geraldes (Bruno) e Jovane Cabral (Nani) deveriam ir a jogo na quarta-feira. Caso contrário, tenho receio de ver uma equipa toda espremida nos desafios que se seguem, algo já visto no passado e com os resultados que todos conhecemos. 

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28
Jan19

Faca na Liga


Pedro Azevedo

Na última semana, o futebol português teve a sua sede em Braga. A pretexto da Final Four da Taça da Liga, o presidente da Liga, Pedro Proença, convidou os clubes para uma reflexão sobre o futebol português. Interrogado por repórteres no final do jogo decisivo da Allianz Cup, Proença declarou, em jeito de balanço, que "tudo correu muito bem". Mas correu?

 

Comecemos pelos presidentes e pelo que deixaram transparecer: António Salvador disse de um árbitro o que Maomé não afirmou sobre o toucinho, Frederico Varandas classificou as três reacções à perda de um jogo no contexto do futebol português como de "dignidade, histeria e cobardia", e Luis Filipe Vieira pediu a cabeça do "varíssimo". Só Pinto da Costa manteve a boca fechada. Atenção, com esta resenha não estou a concentrar as criticas no que foi dito, muito menos no presidente do Sporting (expressou a realidade) que se não tem falado iria ouvir muitos reparos de adeptos e sócios sportinguistas (preso por ter cão, preso por não ter...), mas apenas sensibilizar no sentido em que isto traduz o actual ambiente à volta do jogo em Portugal, perante o qual não se deve assobiar para o ar.  

 

Dos treinadores também se ouviram os ecos: Abel Ferreira foi (a)bélico, de punho fechado contra a mesa, ar esgazeado, bramindo a voz contra a arbitragem do jogo do Braga. Sérgio Conceição reendereçou a medalha de finalista para as bancadas e tomou a iniciativa de retirar a sua equipa do relvado quando o Sporting se preparava para subir à Tribuna para receber a taça. Mesmo Bruno Lage disparou um timido "entre o é e o não é há uma diferença enorme". Apenas Marcel Keizer se conteve, ele que viu a sua equipa ser coroada como campeã de inverno.

 

Todos estes sinais demonstram à evidência que as coisas não estão bem e que dificilmente melhorarão se não forem tomadas medidas e/ou se as entidades competentes não agirem, sob pena de a violência verbal se continuar a alastrar aos adeptos até ao limite da insanidade e da violência física. Certos comportamentos em conferências de imprensa são absolutamente inadmissíveis e outros demonstram uma falta de "fair-play" que não se coaduna de forma alguma com o espírito das grandes competições.

 

Pegando no caso de Sérgio Conceição, alguém imagina as principais ligas europeias, ou a UEFA, contemporizarem com a ausência de uma das equipas na hora da entrega de um troféu? No futebol existem geralmente 3 resultados possíveis, numa final apenas dois. Quem não está preparado para perder, também não saberá ganhar. Há que perceber que, num determinado dia, uma equipa pode ser melhor do que a nossa ou, simplesmente, ter mais sorte. E isso deve ser aceite por todos, na medida em que, fazendo-o, se está a dignificar a própria competição. Sérgio, de alguma maneira, até o reconheceu na análise ao jogo, infelizmente não o fez pelos actos. Acresce que, ao dizer que o adversário não precisava da presença do Porto para levantar a Taça, Conceição nega o espírito que devia nortear as grandes competições, de honra aos vencidos, glória aos vencedores. Porque a vitória do Sporting tem outro mérito por haver outra equipa igualmente bem preparada, como é o caso do Porto, que poderia perfeitamente também ter triunfado. Nesse sentido, abandonar o relvado na hora da consagração do rival é sair sem honra nem glória. E é não saber valorizar o esforço da sua equipa para tentar atingir a glória e a própria competição. Maus sinais, portanto. Por isso, Sérgio Conceição, treinador com quem até simpatizo, desta vez esteve mal. Muito mal. É tempo de arrepiar caminho e todos, efectivamente, reflectirem - mais evidências e menos aparências - , pois o futebol português não pode estar sitiado por um conjunto de "bullyers" que condicionam a atitude dos adeptos - hoje mais mobilizados "politicamente" do que pelo amor ao belo jogo - e não deixam vir à ribalta os verdadeiros protagonistas: os jogadores.

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28
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Taça Durex


Pedro Azevedo

Estive aqui a reflectir - o marketing é uma actividade que estimula e em mim exerce um grande fascínio - e proponho que, depois de Taça Senhor Lucílio Baptista e de Taça da Carica, passemos a designar esta competição como Taça Durex. Isso mesmo! É que sempre se evitavam tantos "penáltis" (o encanto da liga, e tal...), não é verdade? 

 

Como as coisas estão - "penáltis" a toda a hora -, esta denominação oficial de Allianz Cup soa um bocadinho a publicidade enganosa, pois ficam todos a pensar que estão a jogar pelo seguro...

 

27
Jan19

PetroMAX


Pedro Azevedo

Num jogo em que os adeptos leoninos tributaram o seu apreço a uma série de heróis improváveis -  Diaby, Renan (outra vez!!), André Pinto - é justo destacar a prestação de Radosav Petrovic. O sérvio não hesitou - ademais depois de um primeiro sacrifício pela equipa, tendo entrado para jogar fora da sua posição natural - em permanecer em campo mesmo sabendo que tinha o nariz partido. É impossível ignorar o seu foco princípal na altura em que o infortúnio lhe bateu à porta: "deem-me uma camisola" passará justamente à história como a marca mais brilhante da sua presença entre nós, feita da determinação extrema com que ontem à noite iluminou toda a equipa. Com toda a justiça.

 

De patinho feio a belo cisne (ainda que de nariz torto), ou como uma exibição feita de sacrifício, abnegação e comprometimento com o grupo e o clube merece o aplauso deste sócio. Esforço, dedicação, devoção e glória, assim é o Sporting Clube de Portugal!

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27
Jan19

7-3 em oportunidades de golo (ah e tal, o domínio do Porto...)


Pedro Azevedo

Se bem que o Porto, por mérito próprio e por vicissitudes que acometeram ao Sporting, tenha dominado uns bons 30 minutos da segunda parte, a verdade é que a equipa leonina teve bastantes mais oportunidades de golo. Assim, para além dos golos, enquanto o Porto só criou perigo em duas finalizações de André Pereira, o Sporting poderia ter marcado por Nani e Raphinha (duas ocasiões cada), Bruno Fernandes e Bas Dost. Isto é o que nos diz a inexorável frieza dos números...

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27
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - O Inverno do nosso contentamento


Pedro Azevedo

Confesso que não estava especialmente confiante antes do jogo. Vendo e ouvindo a antevisão televisiva, nos vários canais, pior fiquei: a média das probabilidades a nós atribuídas era a alegria dos cemitérios de um sportinguista.

Com esta carga em cima, sentei-me à frente do televisor. Sintonizei a SportTV. Os comentários iniciais foram no mesmo sentido, como se o jogo já tivesse terminado antes mesmo de ter começado e o que nos fosse dado a assistir daí para a frente, uma mera formalidade.  

 

Passado um curtíssimo ímpeto inicial portista, o Sporting pegou no jogo. Incrédulo com o que via no relvado, o comentador tardou a dar o braço a torcer. Pelo menos muito mais tempo do que André Pinto ou Petrovic demoraram a dar o nariz a partir. A verdade é que as melhores oportunidades no primeiro tempo foram dos leões. Com a excepção de uma cabeçada de André Pereira, todos os lances de perigo foram nossos, destacando-se dois remates desenquadrados de Nani, uma carambola em Raphinha que quase tomava o rumo da baliza e um livre de Bruno Fernandes a tirar tinta ao poste, em jogada precedida de um cartão amarelo-alaranjado atrbuído a Felipe. Perante isto, o senhor da SportTV disse que o Sporting tinha conseguido equilibrar o jogo. (Não tenho a certeza, mas talvez não fosse má ideia entregar a decisão das partidas ao senhor comentador da SportTV. Assim, ambos nos poupávamos ao incómodo: nós, de ver os jogos; ele, de ter de se interrogar porque é que tudo correu ao contrário da sua lógica das coisas.)

Entretanto, o árbitro mostrava total desprezo pela "lei da vantagem" e dava cartões conforme a vontade das bancadas, para o efeito transformadas num circo romano de polegares para cima e para baixo consoante a vontade da maioria ruidosa. Em consequência, Acuña viu um amarelo incompreensível e Keizer, assustado, no reatamento decidiu colocar Jefferson no lugar do argentino. 

 

A troca dos laterais esquerdos abria uma perspectiva tenebrosa para o segundo tempo e a expectativa não saiu gorada: entre ajoelhamentos defensivos e perdas de bola no ataque, o brasileiro contribuiu da forma habitual para a (hiper)tensão deste adepto. O que isto foi de dar de fumar à dor (até à exaustão)...Para piorar o cenário, o "soundbyte Abel(ico)" de que o futebol não é basquetebol produziu efeitos e André Pinto caiu por terra - sangrando abundantemente do nariz - após uma cotovelada de Marega, tudo sem qualquer admoestação de João Pinheiro. Sem centrais no banco entrou Petrovic, o qual pouco tempo depois também se magoou na mesma zona. O jogo voltou a ficar interrompido, o sérvio esteve fora do campo a ser assistido (Miguel Luís chegou a estar de prevenção para entrar, de forma a que Gudelj pudesse recuar para a defesa), e as várias adaptações em tão curto espaço de tempo criaram alguma desestabilização (e mesmo pontual desorientação) na equipa leonina. O Porto, liderado por Brahimi, aproveitou, embora sem criar grande perigo, excepção feita a nova cabeçada de André Pereira, desta vez para defesa de Renan Ribeiro. Até que, num lance onde Gudelj estava muito metido na área e Wendel demorou um pouco a fechar, Herrera rematou praticamente sem oposição. O tiro não saiu colocado, mas Renan calculou mal a trajectória e deixou a bola ressaltar para a frente, proporcionando a recarga vitoriosa do recém-entrado Fernando. 

 

A perder a 10 minutos (mais descontos) do fim, Keizer arriscou o que pôde - já só tinha uma substituição possível - e trocou Gudelj por Diaby, recuando Nani para organizar o jogo com Bruno Fernandes. Sob a batuta dos capitães, o Sporting tomou as rédeas da partida e começou a ameaçar as redes de Vanã. Eis então que, num lance insólito, Diaby antecipa-se na área a Oliver e é carregado por este, em jogada sem perigo iminente. João Pinheiro não viu, mas o BiVAR (é verdade!!) chamou-lhe a atenção. Após visionamento das imagens, assinalou "penalty". Bas Dost converteu, igualando o marcador. O Sporting podia ter decidido o jogo ainda no tempo regulamentar, mas Vanã salvou miraculosamente o Porto ao defender um remate de Raphinha que concluiu uma assistência soberba de Bruno Fernandes. 

 

Seguimos para "penáltis" e o Sporting voltou a falhar primeiro. Após novo golo de Dost, Coates repetiu o falhanço da semi-final. Mas Renan tornava a baliza pequena e Militão escolheu (acertar no painel d`) a Super Bock. Bruno marcou com a classe do costume, e quando Hernâni partiu para a bola comentei para o lado que iríamos ganhar. Estatisticamente, os canhotos geralmente cruzam a bola nos penáltis e Renan também assim o pensou e defendeu. A conversão de Nani deixou-nos muito perto da vitória. Ficámos com duas hipóteses em aberto para ganhar o jogo: se o Porto falhasse a penalidade seguinte, ou Raphinha convertesse a última, o Sporting ganharia. Para sossego do meu coração, Felipe acertou no travessão e começou a festa. Abracei todos os que estavam à minha volta e já não ouvi os comentadores, mas admito que tenham tido uma noite longa a explicar como o Porto perdeu um jogo antecipadamente ganho. Deve ter sido coisa para um certo monólogo shakespeariano que envolve a constatação de que a consciência tem um milhão de diferentes vozes...

 

Na Pedreira, o Sporting levou a Taça e Keizer ganhou o seu primeiro título como treinador. Foi a segunda vitória consecutiva dos leões na competição, com a curiosidade dos 4 jogos da Final Four terem sido ganhos por penáltis. Já se sabe, connosco é sempre a sofrer até ao fim. Destaque-se também que ganhámos os últimos 8 jogos (!!) de mata-mata disputados contra o FC Porto (ninguém diria, pois o tratamento dispensado pela CS foi sempre de "underdog"), o que nos torna já numa espécie de São Jorge (proponho-o para padroeiro do clube) para os dragões, mesmo que neste caso tenhamos tido menos um dia de descanso e a erosão psicológica adicional de uma (prolongada) série de grandes penalidades. 

 

E assim, ao contrário das primeiras linhas de Ricardo III - "(Este é) o Inverno do nosso descontentamento" - , ou do livro homónimo de John Steinbeck, somos os CAMPEÕES DE INVERNO!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (mas "Renan é grande", como disse Dost). Num segundo plano, Petrovic, Coates e Nani (quando passou para o meio) estiveram acima dos restantes. Destaque ainda para Diaby, providencial ao ganhar a grande penalidade.

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26
Jan19

One too many


Pedro Azevedo

"Dá-me um irreal, um imaginário...dá-me um irreal

 Dá-me um irreal, um imaginário...dá-me um irreal

 Dá-me um ideal, um ar ilusório...dá-me um ideal

 Dá-me um ideal, um ar ilusório...dá-me um ideal

 Popular, surrealizar por aí

 Popular, surrealizar por aí

 Popular

 Não me dês moral...dá-me irreal ideal social popular avançado" - Ban

 

Michel Platini, numa derradeira tentativa de estancar o progresso tecnológico, criou aquela aberrante criatura posicionada atrás de uma baliza, um tipo de placebo que ninguém conseguiu descortinar exactamente para o que servia. Quer dizer, para além de conseguir "pintar" coisas tão surreais como uma mão em forma de rosto numa noite em Gelsenkirchen, ninguém percebeu a sua utilidade. Depois, com o inexorável progresso, chegou o VAR. Uma boa ideia, mas ainda a deixar margem para a natureza humana decidir, ou não decidir, ou indecisamente alegar uma neutralidade helvética. Agora, querem introduzir dois VARs (o BiVAR, de étimo lendário e nobre, a fazer lembrar El Cid, o Campeador). Dá um bom nome, mas faz lembrar aquele trocadilho do "1 ovários" (um ou VARios). Se a coisa der semente, cheira-me que o parto vai ser demorado e que a hora não vai ser pequenina. Árbitro, VAR1, VAR2: um é pouco, dois é bom, três é capaz de ser um bocadinho demais. É que isto pode vir a tornar-se numa conferência de advogados: em cada dois que se juntam, há pelos menos três opiniões. E tudo poderá acabar como na anedota do fanhoso e do coxo (ou na do corcunda). Por isso, ilustres senhores do Conselho de Arbitragem, se pensam que o problema do défice de qualidade pode ser resolvido pela quantidade, vão acabar por enfrentar perdas de produtividade. "Do you wanna bet?"

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26
Jan19

Aí leões!!!


Pedro Azevedo

O jogo não será no (Estádio do) Lima, mas sim na Pedreira. (Pedra lascada, portanto.) Infelizmente, não estará lá presente, pelo menos fisicamente, aquele que considero o melhor actor português de sempre, o sportinguista António Silva, a quem aqui singelamente homenageio. De um leão da Estrela para O Leão da Estrela, com o desejo ardente de que saiamos vitoriosos. Aí leões!!!

 

P.S. Ó Barata (Erico Braga), desculpa lá qualquer coisinha, mas vai ter de ser...

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25
Jan19

Deus, o Diabo e a maldição do Leão Rampante


Pedro Azevedo

O futebol é, certamente, um fenómeno que atrai superstições e crendices várias. De Zandinga a Delano Vieira, passando pelos alhos de Oliveira ou encomendas ao General Professor Nhaga, a tudo se recorre quando é importante ganhar. E, claro, se o futebol para muitos é uma "religião", a fé também está sempre presente.

 

Lendo Galeano, deparo-me com um conjunto risível de episódios que marcaram o futebol brasileiro. A narrativa começa no Vasco da Gama, decorria o ano de 1937. Numa noite chuvosa, um adepto de uma modesta equipa adversária (Arubinha) enterrou um sapo e lavrou uma maldição: "o Vasco não ganhará o campeonato nos próximos 12 anos". Durante anos, funcionários, fãs e até jogadores cavaram a terra à procura do sapo. Sem sucesso! O clube dos portugueses do Rio foi comprando os melhores jogadores do Brasil, mas os resultados deixaram de aparecer. Até que em 1945, o clube conseguiu finalmente ganhar o Estadual, após 11 anos de seca, o que levou o seu presidente a declarar que Deus lhes tinha feito um pequeno desconto. 

O segundo episódio passou-se com o Flamengo, o mais popular clube do Brasil. Os seus fãs ansiavam por um título e, em 1953, foram falar com um padre católico. O Padre Góis garantiu a vitória desde que os jogadores assistissem a uma missa antes de cada jogo. A verdade é que o ‘Fla’ venceu o campeonato nos 3 anos seguintes, o que levou os seus rivais a apresentarem queixa junto de um superior do padre, o Cardeal Jaime Câmara. Ao quarto ano, o Flamengo não ganhou. Consta que os jogadores nunca mais compareceram na igreja onde o padre celebrava a missa. 

O terceiro exemplo relaciona-se com o Fluminense. O Padre Romualdo obteve autorização do Papa para se associar ao ‘Flu’. O sacerdote passou a assistir a todos os treinos do "Pó de arroz", embora os jogadores não gostassem da sua presença. Já decorriam 12 anos desde o último troféu do Fluminense e os atletas associavam o padre a um grande pássaro negro, sinal de má sorte. Muitas vezes gritavam-lhe insultos, desconhecendo que o Padre Romualdo era surdo desde nascença. Um dia, o Fluminense começou a ganhar. Um campeonato, depois outro e outro...Então, os jogadores exigiram à Direcção só treinar na sombra do padre. Após cada golo no entreinamento criaram o hábito de beijar a sua batina. Aos fins-de-semana, o padre passou a assistir aos jogos na Tribuna de Honra, muitas vezes inclusivé bramindo a sua ira contra o árbitro e os jogadores da equipa adversária(!). 

 

Vem isto a propósito de um longo ciclo sem vitórias do Sporting no campeonato nacional. Que se segue a um anterior de 18 anos. Tudo isto ajudando a que não tenhamos ganho um campeonato em ano ímpar desde 1953. Há 66 anos, portanto. Não sei, mas mal não faria se mandassemos benzer balneários, bancadas e relvado, não Vos parece?

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25
Jan19

G(h)anas de perceber isto...


Pedro Azevedo

Lumor deu nas vistas no Portimonense e assinou pelo Sporting quando já tinha um pé no PSV Eindhoven. Ainda jovem (22 anos), já conta com 9 internacionalizações pela selecção do Ghana e uma experiência na 2.Bundesliga, onde foi treinado pelo ex-treinador portista (e actual campeão chinês) Vitor Pereira. 

Borja vai fazer 26 anos (Fevereiro) e rubricou contrato com o Sporting, proveniente dos mexicanos do Toluca. Internacional colombiano por duas vezes, jogou anteriormente nos nativos Cortuluá e Independiente Santa Fé. 

Em suma, trocámos um jogador mais jovem (emprestado com opção de compra - não divulgada - ao Goztepe, da Turquia), já adaptado ao futebol europeu e com um número de internacionalizações interessante por uma das melhores selecções de África (históricamente, terceira na CAN), por um colombiano (mais velho) que jogava no México, não tem experiência europeia e que só recentemente (4 meses) chegou a internacional por uma boa selecção da América Latina (sétima em palmarés na Copa América). 

É difícil perceber estas opções, bem como compreender porque é que a Lumor foram dadas tão poucas oportunidades por JJ, Peseiro ou Keizer. Vi-o jogar na pré-época e, mais tarde, contra o Santa Clara, no tempo em que Tiago Fernandes foi treinador interino, e não desgostei. É um jogador rapidíssimo, de boa técnica e passada larga, ideal para uma equipa com pretensões e que jogue em bloco alto (recupera bem, dobra por dentro as transições adversárias e controla a profundidade). Terá de melhorar o aspecto de fechar por dentro quando em postura defensiva, mas isso virá com as rotinas de jogo.

O pior de tudo isto é depreender que a saída de Acuña deverá estar iminente. A acontecer, perderemos um jogador daqueles que ajuda a ganhar campeonatos. Quanto à nossa acção no mercado de Inverno, creio que continuamos a acumular stocks. Exemplos: Gauld vai emprestado para o Hibernian (Escócia), comprámos mais um Matheus; Lumor vai emprestado para a Turquia, vem Borja (se Acuña não sair, o que vai acontecer a Jefferson?); Geraldes ainda não foi utilizado e vamos ver as oportunidades que Idrissa Doumbia virá a ter, ele que tem a "concorrência" de Gudelj e Petrovic. Entretanto, os jornais dizem que queremos mais um avançado (mesmo após aquisição de Luíz Phellype). Andamos nisto há anos...

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25
Jan19

Contos de um Leão Rampante - Paulo Uchoa


Pedro Azevedo

"A importância de se chamar...Uchoa" (*)

 

" - `U` quê ? -, perguntará o leitor. Uchoa!

 

Paulo Uchoa realizou apenas 2 jogos pelo Sporting no campeonato de 1982/83 e, inicialmente, foi a única razão pela qual dei Graças a Deus por o ter feito, caso contrário não conseguiria alocar um nome de um jogador nosso à letra "U". Mas, à medida que fui procurando informação na internet, o mistério sobre este homem foi adensando-se e a curiosidade aumentando...

 

Passo a explicar: eu tinha memória de um jogo a que assisti no velhinho Alvalade, em que Uchoa marcou o que na altura constatei ter sido um golaço, ao Rio Ave, recebendo a bola a meio do campo do adversário, fintando um oponente com um túnel efectuado com o pé esquerdo, para depois, com o pé direito, enviar uma bomba directamente ao ângulo superior esquerdo (na projecção do nosso ataque) da baliza do estupefacto guardião vila-condense. Ora, tendo agora verificado que só realizou duas partidas e sabendo que tinha tido o privilégio de assistir a um golo seu, e que golo, quis saber mais sobre o Homem, convencido de que as escassas aparições de verde-e-branco não seriam condizentes com o seu valor futebolístico.

 

Aqui chegados, devo dizer que encontrar notícias sobre Paulo Uchoa na "net" é tarefa quase tão condenada ao fracasso como a esperança de ver pinguins a banharem-se em praias algarvias...

 

Eis, no entanto, que me deparo com a sua situação actual: 62 anos e Professor de Educação Física na Universidade do Grande Rio (Unigranrio), em Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro. Três quartos de hora de pesquisa(?) mais tarde e com a mesma persistência com que a coelha anã que ofereci à minha filhinha insiste em roer as bancadas da nossa cozinha (será que o local a qualifica como animal "doméstico"?) fez-se finalmente luz, e um nirvana se apoderou de mim: o homem é real e tem um passado no Brasil que certifica o golaço que lhe vi marcar.

 

Em 81, um ano antes de chegar a Lisboa, Uchoa foi campeão brasileiro, jogando a maior parte dos jogos a titular, como defesa direito, num time (Grémio de Porto Alegre) que tinha o mítico Emerson Leão (mundiais de 74 e 78) entre os postes, Paulo Isidoro (Mundial de 82), no meio-campo e o ex-colega de Paulo Futre no Atlético de Madrid, Baltazar, no ataque. Como se não bastasse, relegou para suplente um jogador, Paulo Roberto, que Telé Santana levaria consigo para Espanha, suplente de Leandro no escrete.

 

Aqui fica a curiosidade: o Grémio bateu na final, jogada a duas mãos, o São Paulo, treinado por Carlos Alberto Silva (esse mesmo), vencendo por 2-1, em casa, e por 1-0, fora. Uchoa foi titular no primeiro jogo (disputado em casa) e defrontou uma equipa composta pelo recém-falecido (Mundial 82) Valdir Peres (o "careca"), na baliza, Óscar (capitão da selecção de 82), na defesa, Zé Sérgio (extremo fantástico) e Serginho - titular da Canarinha em Espanha face à ausência do lesionado Careca, não o guardião, mas sim o avançado que viria a jogar no Nápoles de Maradona e não era careca -, no ataque. E ainda, Marinho Chagas, a Bruxa, o Diabo Louro, o Canhão do Nordeste, o homem vindo de Natal, dotado de fortíssimo remate, que actuava como defesa esquerdo, subia, subia, subia no terreno e depois só voltava no Natal (o outro, o Cristão) para irritação dos seus treinadores; que na estreia como profissional, por um anterior clube, o Botafogo, deu um lençol a Pelé seguido de um túnel que deixaram o Rei à beira de um ataque de nervos. Internacional e titular no Mundial de 74 (ao lado de outro Marinho, Peres, nosso velho conhecido), jogador irreverente e playboy (gabava-se de ter tido um caso com uma princesa europeia), acabaria por sucumbir ao alcoolismo...

 

Bom, este conto (?) já vai longo e, para terminar, vou dizer apenas que, apesar de António Oliveira o ter utilizado pouco, Uchoa foi jogador com estatuto no Brasil, deve ter a melhor média de golos por jogo de todos os defesas direitos da história do Sporting e safou-me a letra "U". Obrigado Uchoa, Professor Uchoa!" 

 

(*) Quando meti na cabeça este projecto de recordar antigos jogadores do Sporting através da elaboração de pequenas estórias, pensei em juntar um nome a uma letra do abecedário (k,w, y, incluídos). Se nalguns casos tive excesso de oferta de nomes face a uma determinada letra - problema resolvido, em parte, com a inclusão adicional de 2 Bolas de Ouro europeus, 1 Bola de Prata europeu, 1 Bota de Ouro (para além de Yazalde), 1 "cantinho de Antuérpia" e 1 Matador (Acosta), perfazendo um total de 32 jogadores -, quando cheguei à letra "U", engoli em seco durante horas até que me lembrei de Uchoa, o misterioso e pouco preponderante Uchoa, porque as estórias que aqui escrevo são mais do que a descrição de grandes feitos, da glória eterna. Pequenas façanhas, tristes desventuras de gente que se entregou com esforço, dedicação e devoção serão também radiografadas neste espaço.

 

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